Devemos culpar a falta de organização do futebol brasileiro, especialmente nos últimos anos.
Vamos avaliar: quais foram os últimos campeões brasileiros nestes 4 anos? O São Paulo levou 3 em sequência!! Uma vergonha para todos os outros clubes do Brasil, é a decadência da nossa estrutura, dos clubes, das federações, da CBF, tudo.
Desde 1994 eu não torço para a seleção brasileira. Embora sofrida, a eliminação do Brasil em 1982 foi até certo ponto justa, pois perdemos para um Paolo Rossi inspirado, e venceu o melhor de dois timaços. Em 1986, acho que tínhamos uma seleção de 82 mais experiente, e perdemos jogando bem até demais. Puro azar, um show de gols perdidos inexplicavelmente. Ao menos o segundo maior gênio do futebol brasileiro, Zico, não passou em branco, pois foi campeão mundial pelo Flamengo. Mas a seleção de 86 merecia aquele título, mais do que as duas campeãs que vieram depois.
A partir de 1994, o Brasil passou a ser uma seleção estranha. A melhor definição para o que aconteceu a partir daí foi do Maradona essa semana: "eles podem não estar num bom momento, mas resolvem tudo em dois lances". Sim, muitas vezes outras seleções começavam jogando melhor que o Brasil, mas de repente a bola batia, rebatia e sobrava pro Romário (94) ou Ronaldo (02). Chegava a ser injusto e estranho. Pra mim esses dois títulos só aconteceram por dois motivos:
- 1 - As outras seleções conseguiam ser piores que a do Brasil.
- 2 - Infelizmente, a Romênia de Hagi, Petrescu, Popescu, Raducioiu, Dumitrescu e outros talentos perdeu NOS PÊNALTIS para a Suécia em 94. A partir deste ano, Romênia e Paraguai passaram a ser minhas seleções favoritas, uma pela habilidade coletiva (e não lancezinhos isolados e de sorte), outra pela raça.
E nesses lancezinhos isolados, o Brasil ía levando, levando, com seus supercraques internacionais que juntos nunca renderam grande coisa (novamente, jogavam mal mas - quase - sempre resolviam tudo em dois lances).
Essa mediocridade do futebol chegou ao campeonato brasileiro. Por três anos, venceu o time mais frio que eu já vi jogar na minha vida. Tudo ficou sem graça. Poucos jogadores do tri do São Paulo serão lembrados daqui 10 anos. Eu ainda lembro do Palhinha, da oooutra geração. E que jogadores o São Paulo revelou ou comprou nesse tempo todo? Um goleiro arrogante e sortudo, o lateral Cicinho, que sumiu, mas principalmente VOLANTES e ZAGUEIROS: Mineiro, Josué, Richalysson, Hugo, Alex, Lugano, Jean... e meias e atacantes meia-boca, como Hernanes, Dagoberto e Washington, que eram suficientes pra resolver tudo em dois lances por aqui.
Tudo estava tão ruim, tão ruim, que demorou, mas finalmente um time conseguiu quebrar o monopólio do dinheiro, da frieza, do futebol burocrático e previsível. O mesmo que saiu da zona de rebaixamento em 2007 para uma arrancada fenomenal até uma vaga na Libertadores, que começou com uma vitória sobre o todo poderoso SPFC no Maracanã, gol de Íbson. O time mais amado do mundo, o mais surpreendente, o mais apaixonante.
Finalmente em 2009 os times aprenderam a lidar com o futebol burocrático de não jogar e não deixar jogar, de resolver tudo em dois lances. E não é de surpreender que, apesar do Flamengo ter contado com brasileiros como Juan, Léo Moura, Íbson (até a janela de transferência), e mesmo Adriano, que ao menos ano passado estava bem, ter tido como maestro um ESTRANGEIRO, um SÉRVIO de quase 40 anos.
DEJAN PETKOVIC! Hoje desejei que você tivesse nascido no Brasil, ou se naturalizado. Você fez milhões voltarem a acreditar em e vibrar com o futebol arte, a beleza, o drible, lançamentos milimétricos, cobranças de falta e até gols olímpicos.
Que para 2014 o Brasil tenha jogadores que não fiquem dependendo de dois lances isolados para resolver tudo em um dia e empurrar o futuro com a barriga. Perder não é desonroso. Desonroso é perder de forma desonrosa. Em 82, perdemos por Rossi, mas todos jogaram o que podiam. Em 86, puro azar. Em 90, jogamos o que podíamos. Mas em 98 e hoje, perdemos de maneira ridícula!!!
Que se aprenda a lição, que os clubes sejam mais competentes e não deixem nossos talentos se perderem nas Turquias, Ucrânias, Uzbequistões e Emirados Árabes da vida, e serem esquecidos em troca de outros jogadores que nem nunca ouvimos falar nem sabemos de onde saíram. E que não dependamos de lances isolados, mas do nosso talento e raça. Que da próxima vez tenhamos um líder em campo em quem depositar nossa inteira confiança. Alguém como Zico, Hagi, ou Petkovic.
E mais outra: embora eu goste dele, infelizmente tenho de perguntar, que outra experiência como técnico teve o Dunga antes de treinar a SELEÇÃO BRASILEIRA????